Aumento de acidentes na indústria preocupa

Aumento de acidentes na indústria preocupa

“A maioria das empresas que visito encara a segurança do trabalho mais como custo do que como investimento”, relata Rafael de Toledo, engenheiro de segurança do trabalho que dá treinamentos relacionados ao assunto em empresas. Os constantes acidentes laborais instigam discussões acerca da segurança no trabalho. Somente nos últimos dois meses é possível citar alguns casos, como a explosão do silo no Paraná, no início de agosto, e a explosão de uma caldeira em uma indústria metalúrgica no interior de São Paulo, no começo de setembro. Ambos os acidentes resultaram em mortes. 

De acordo com o Radar SIT, painel de informações e estatísticas da inspeção do trabalho no Brasil, em 2021 a indústria de transformação foi o setor com mais acidentes de trabalho. Soma-se a isso o aumento no número de acidentes de trabalho de modo geral no Brasil. Segundo o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, a quantidade de notificações de acidentes aumentou cerca de 7% em 2022.

Falta de prevenção aumenta acidentes

Roberto Mitsuhiro, engenheiro metalúrgico com especialização em engenharia de campo de qualidade, cita as principais causas dos acidentes na indústria: “a falta de implementação de políticas de prevenção por parte da instituição e colaboradores inexperientes e despreparados.”

Toledo atua diretamente com acidentes nas empresas, elaborando o CAT (Comunicado de Acidente de Trabalho) que é enviado ao Ministério do Trabalho. Em sua experiência, ele constata que grande parte dos casos que atende são ocasionados por falta de atenção, falta de experiência e máquinas sem proteção – ocasionalmente retirada pelo colaborador. Ainda assim, Toledo ressalta que não é possível culpar o trabalhador. “Dá para culpar um funcionário que usou o equipamento errado? Como você culpa o funcionário sendo que a empresa não deu ao profissional um treinamento exigido pela norma?”, questiona.

DDS na Manutenção: promovendo segurança e eficiência

Mitsuhiro aponta que os setores mais propensos a ter acidentes são aqueles que também apresentam mais riscos em suas atividades. A construção civil é colocada por ele como a área mais suscetível, “devido às atividades inerentes aos serviços executados, como trabalho em altura, choques elétricos, desmoronamentos e uso de produtos químicos”, além de usarem mão de obra pouco qualificada. 

Nacionalmente, a Secretaria de Inspeção do Trabalho é o principal órgão destinado à fiscalização do cumprimento das normas relacionadas à segurança e saúde no trabalho (SST). Além da fiscalização, a secretaria também recebe denúncias de trabalhadores, sindicatos e órgãos públicos. Como parte do Ministério do Trabalho e Emprego, eles apontam que a principal causa de acidentes na indústria é a gestão inadequada dos riscos ocupacionais.  

Entretanto, o órgão também ressalta que “em alguns ramos a preocupação maior é em relação aos esforços repetitivos, posturas e ritmos inadequados, além dos riscos psicossociais, levando a um número elevado de Distúrbios Osteomusculares dos membros superiores e transtornos mentais como ansiedade e episódios depressivos”.  

Para além das perdas humanas

Segundo estimativas globais da Organização Internacional do Trabalho, além dos danos humanos, a economia perde cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) por causa de doenças e acidentes de trabalho. 

No Brasil, de acordo com o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, foram gastos 88,3 bilhões de reais com auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, com dados do INSS de 2021.  O valor corresponde a cerca de 5,5% do PIB do país no mesmo ano. 

As normas regulamentadoras (NRs) são parte da legislação trabalhista e estabelecem os deveres do empregador e do trabalhador com a finalidade de garantir um trabalho seguro e sem ocorrência de doenças ou acidentes. Hoje, as 38 NRs existentes preveem medidas abrangentes e também específicas para determinadas áreas, que estabelecem desde o controle de exames médicos dos trabalhadores pela empresa, até diretrizes sobre o trabalho com explosivos, por exemplo.

Dicas para tornar a rotina no trabalho mais segura

“Empresas contratam nosso trabalho porque são obrigadas”, relata Toledo. O descumprimento pode resultar em pagamento de adicional de periculosidade, gerar multas, embargo de obras e, em casos mais graves, pode levar a empresa a responder criminalmente. 

Rafael cita o exemplo do treinamento para o uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), uma regra presente na norma nº 6. Por serem ações simples (como usar botas, máscaras e luvas), as empresas tendem a achar que é algo dispensável, mas a legislação prevê que o trabalhador esteja ciente da importância e dos riscos que corre ao não utilizar, por exemplo, além das formas corretas de higienização.

A elaboração e aprovação de novas normas regulamentadoras “não é um processo simples e rápido”, aponta a Secretaria de Inspeção do Trabalho. A razão disso se deve ao processo participativo para a criação das normas. A Comissão Tripartite Paritária Permanente (CTPP) é composta por trabalhadores, empregadores e membros do governo e é ela que define a Agenda Regulatória.

Prevenir é o melhor remédio

Como diz o ditado: prevenir é melhor do que remediar. A solução para acidentes de trabalho está justamente na maior conscientização das empresas e trabalhadores a respeito do assunto. Katyana Aragão, gerente executiva de saúde e segurança na indústria do SESI, aponta que é necessário criar ações de capacitação e envolver mais os colaboradores na identificação de perigos. Isso, somado a tornar todos cientes de que “segurança e atendimento às normas é papel de todos, não somente da equipe especializada em Saúde e Segurança do Trabalho”.

Mitsuhiro alerta para como um maior investimento em EPIs e EPCs (proteção coletiva) também contribui para a redução de acidentes. “Não improvisar”, afirma ele, é uma ação que não deve ser feita, seja improvisando um colaborador em áreas específicas, ou nas manutenções preventivas, corretivas e preditivas das máquinas.

Para a Secretaria de Inspeção do Trabalho, “a prevenção de acidentes e doenças relacionados ao trabalho passa necessariamente pela avaliação minuciosa dos riscos ocupacionais existentes em cada tarefa”. E, consequentemente, também deve levar à adoção de medidas adequadas para o controle desses riscos. 

Qual é a cor correta do capacete de segurança para cada profissional da indústria?

Ao contrário do que é muito difundido, a Secretaria reforça que o controle dos riscos tem uma hierarquia e não é baseada nos Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Apesar de importantes e necessários, os EPI devem representar medidas emergenciais ou complementares, enquanto a eliminação ou bloqueio dos fatores de risco ainda não foi conseguido. 

Escrito por: Thiago Hideki Baba

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