A Teoria do Novo Desenvolvimento (NDT) ou Novo Desenvolvimentismo é uma teoria econômica em construção desde o início dos anos 2000. Origina-se da Economia Política Clássica, da Economia Pós-Keynesiana e da Teoria Desenvolvimentista Clássica, que, na América Latina, também foi denominada Teoria Latino-Americana Estruturalista e, no Norte, Development Economics.
É uma teoria que
- vê o desenvolvimento econômico como um objetivo prioritário para os países - um objetivo mais alinhado do que em conflito com os outros objetivos políticos importantes das sociedades modernas: autonomia nacional, segurança, liberdade individual, justiça social e proteção do meio ambiente.
- considera duas instituições que coordenam a economia: o Estado, que é o sistema constitucional-legal e a organização que o garante, e o mercado, que coordena os setores que são competitivos.
- tem como objetivo o estudo de sociedades capitalistas constituídas em estados-nação, como nelas se alocam recursos, se alcança estabilidade e elas crescem.
- assume que essas economias nacionais estão organizadas de forma desenvolvimentista, combinando intervenção moderada do Estado com o mercado, ou de forma liberal, procurando deixar todo o papel coordenador para os mercados nacional e internacional.
- afirma que o mercado coordena de forma superior os setores competitivos de uma economia, enquanto o Estado coordena os setores não competitivos, os preços macroeconômicos, a distribuição de renda e a proteção do meio ambiente.
NDT compreende uma economia política, uma macroeconomia, uma microeconomia, uma teoria da distribuição e uma abordagem ambiental.
Como economia política, supõe que, para se desenvolver, cada Estado-nação deve contar com uma coalizão de classes, um Estado desenvolvimentista e com o nacionalismo econômico;
- uma coalizão de classes formada principalmente por empresários industriais, a classe assalariada e assalariada e a burocracia pública;
- um estado desenvolvimentista que intervém moderadamente na economia; e
- adota o nacionalismo econômico, definindo assim um projeto de desenvolvimento nacional, ao mesmo tempo que rejeita o nacionalismo étnico e cultural e defende a cooperação com outros estados-nação.
Como microeconomia, supõe que para se desenvolver cada Estado-nação deve:
- investir em educação, saúde pública e infraestrutura; criar um sistema de seguridade social e de renda básica, e construir um sistema institucional que regule e fortaleça os mercados;
- desenvolver uma organização estatal formada por funcionários profissionais e políticos eleitos entre os quais haja um número razoável de pessoas dotadas de virtudes cívicas e capazes de optar pelo interesse público mesmo quando este conflite com o seu interesse privado;
- aumentar a produtividade por meio (no caso dos países em desenvolvimento) da transferência de mão-de-obra para os setores econômicos mais sofisticados tecnologicamente, que têm maior valor agregado per capita e pagam salários mais altos, ou, principalmente no caso dos países desenvolvidos, via expansão da fronteira tecnológica para se beneficiar dos retornos crescentes de escala;
- o Estado deve intervir apenas nos setores não competitivos da economia, principalmente a infraestrutura, a indústria de insumos básicos e os grandes bancos, deixando a coordenação dos setores competitivos ao mercado, que é muito mais eficiente neste caso, estrategicamente complementado pela política industrial.
Como macroeconomia, o NDT parte do pressuposto de que o mercado não é capaz de garantir o equilíbrio da conta corrente e manter certos os preços macroeconômicos (taxa de juros, taxa de câmbio, taxa de salários, taxa de inflação e taxa de lucro) e defende que o Estado:
- mantnha o equilíbrio das duas contas macroeconômicas (externa e fiscal), ao mesmo tempo que pratica uma política fiscal contracíclica keynesiana;
- limite as despesas correntes estabelecendo para elas tetos proporcionais ao PIB, enquanto realiza investimentos públicos e define receitas especiais para financiá-las que representem mais um piso do que um teto;
- busque administrar os cinco preços macroeconômicos, principalmente mantendo a taxa de juros em um nível relativamente baixo em torno do qual realiza sua política monetária, garantindo uma taxa de câmbio competitiva e uma taxa de lucro satisfatória para todas as empresas e principalmente para as mais tecnologicamente sofisticado;
- rejeite uma política de crescimento com endividamento externo e déficits em conta corrente (a não ser excepcionalmente, quando o país está crescendo rapidamente e a propensão marginal a investir aumenta), não apenas porque podem evoluir para uma crise cambial, mas porque, antes disso, os influxos adicionais de capitais necessários para financiar o déficit valorizam a taxa de câmbio e tornam não competitivas as empresas do país que produzem bens e serviços comercializáveis embora elas adotem a melhor tecnologia disponível;
- se o país tiver doença holandesa, o Estado adote políticas para neutralizá-la de forma a tornar a taxa de câmbio competitiva, eliminando a diferença entre o equilíbrio corrente (que equilibra intertemporalmente a conta-corrente) e o equilíbrio industrial - a taxa de câmbio que torna não competitiva apenas as mercadorias, mas também os bens e serviços comercializáveis; em consequência, o país terá um superávit em conta corrente cujo tamanho dependerá da gravidade da doença.
Como teoria e política de distribuição, o NDT defende a intervenção do Estado na distribuição da renda para neutralizar a tendência de aumento da desigualdade econômica que decorre seja da tendência à queda da produtividade do capital, seja do processo contínuo de acumulação de capital nas mãos de capitalistas rentistas. Com base nessas duas premissas, o NDT defende
- uma estrutura tributária progressiva e
- gastos públicos sociais visando um estado de bem-estar, no pressuposto de que o consumo coletivo é mais eficiente do que apenas aumentar os salários.
Como uma abordagem ambiental, vê a mudança climática como uma grande ameaça à humanidade, mas entende que o crescimento econômico é mais uma ferramenta para limitar o aquecimento global do que para causá-lo, e defende que o Estado
- adote políticas que estimulem o investimento em energia verde e em tecnologia livre de carbono e penalize;
- estabeleça impostos para as empresas e indivíduos que emitem dióxido de carbono; e
- imponha tarifas de importação contra os países que não tributam suas próprias emissões de gás carbônico.
Dois gráficos frequentemente usados pela TND
Imagem 3: Taxa de cambio e equilíbrio corrente em país em desenvolvimento
Imagem 2: Taxa de cambio e equilíbrio corrente em país em desenvolvimento
Texto: Primeira edição publicada por Bresser-Pereira sob licença CC BY-SA | ![]() |
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